Escuta-se o mar
Escuta-se um ritmo metálico, bem sincopado
A anunciar o acontecimento
Soa à tampa de uma panela, som estranho
Repete infinitamente, raspando e batendo
É a percussão da praia de Goa...
E não pára... é um menino que agora começou a cantarolar
E se aproxima da corda equilibrista.
Entoa uma melodia, nem triste, nem alegre...
É o circo na praia de Palolém!
Vem a estrela de vestido, ainda que curtido pelo sol
De pulseiras no tornozelo, sobe agilmente...
E começa o espectáculo!
Em pleno sol abrasador, o som metálico continua
Marca a emoção da menina acrobáta de Palolém!
Que desafia a lei da gravidade, ao caminhar equilibrista
A corda de 4 metros, a menina que nunca cheguei a saber o nome...
Era já artista nos seus precoces 10 anos! (penso eu)
Anos passados da viagem à Índia, mas parece ontem
Recordo-me dessa imagem...
A emoção continua, não só percorreu com uma perícia
impressionante para os seus poucos anos, como ainda repete!
De jarra na cabeça e taça num pé, ou com um arco no pé, incrível!
Vai trocando, passa para um pé e para o outro, sempre sem qualquer balanço!
Era fantástico o empenho daquela miúda!
Para sobreviver!
Três crianças criaram um espectáculo mágico na torreira do sol!
Agora em nostalgia, até parece que vibro mais...
Talvez porque ali estava anestesiada perante tantas crianças que vi e que se cruzavam na viagem...
Talvez por estar cega pela impotência e até indiferença de turista...
Viagem inesquecível... Vi e senti tanto... Partilhei com amigas!
E sei que durante e depois transformamo-nos...
É curioso, como a menina de Palolém ressurgiu num misto de memórias e de sentimentos!
Que será de ti, agora?! Seguiste a arte do circo?!
Nem sei o teu nome, mas recordo agora com nitidez
Aquela magia e aquele esforço de criança...
A menina equilibrista de Palolém!
Às minhas grandes amigas,
para que não esqueçam nunca a menina equilibrista que levam dentro!
