sábado, 29 de outubro de 2011

As densidades


Media-se a dor por esperar um dia acabar. Conta-se o dinheiro para durar e se multiplicar, como os dias, os meses e os anos, mas estes aumentam para o fim e o início da eternidade. É densa a quantidade de vezes que sofri e os anos que vivi em alegria também e aquelas emoções que se colam como cicratrizes que nos atormentam a vida toda… A vida toda é densa… Densos são também os mares que se oceanos e as serras que são montanhas e tudo tudo que é real ou uma recriação do que existe entre o é e o que parece ser, ou o que apenas é por sentir com os cinco sentidos e com todas as emoções… Densa condição de viver que busca camadas de roupas e histórias de encantar e representar os diferentes papeis nos cenários… Densos são os jornais e os livros, denso é o mundo por tanta agitação e injustiça e tantas pessoas… É denso sentirmo-nos especiais… sinto-me pesada.
Queria perfurar a densidade da luz que fura entre as árvores e penetra no solo, criando um jogo entre as folhas que dançam ao vento e as árvores que parecem mexer-se suavemente… A luz pode ser imensurável não é cativa, expande-se sem limites.
Ser luz sem grades, ter sem ter, imanar sem temer, ser sem pesar, agir por ser.
Vejo o quão pesadas andam as consciências e os corpos opacos sem vida, sinto a densidade do ar, da terra, do mar e perco-me na sua vida, fragmentando-me em nada e dentro da densidade de mim, levito na natureza sem nada mais…
Palavras densas obscurecidas por códigos que são a poeira e a tempestade de areia que aumenta e imobiliza qualquer vida existente. As tempestades que arras am.
Olhares e memorias que se tranportam connosco criando um ambiente, um cenário de nós e dos nossos sonhos e ilusões… Que densos que somos.
Percorria-te o corpo até sentir a tua densidade dentro de mim e libertar-me da minha e assim a levitar agitava a densidade da nossa alquimia, sentindo-me por fim densamente poderosa pela densidade dessa expiriência… Quão profundo é o teu olhar, quão fundo é o teu ser, como o oceano… A vida é interminável e inesgostável.
A densidade do meu limite é uma ilha confortável da qual crio nevoeiros densos de enigma, por não saber libertar-me e por temer o impacto da queda pesada e densa. Densos são os meus pais, por não os saber amar e querer-los tanto. Respiro a densidade do meu ser, suspiro pesadamente pela carga dos meus pensamentos e emoções que ocupam espaço e roubam energia.
A densidade em todos e em cada um é um universo infinito de realidades sobre ficções e histórias sobre factos, que de alguma forma fazem sentido ou convivem harmoniosamente, gostaria de viver em algumas densidades e abandonar-me à minha insignificância… Mas afinal são os caminhos densos que percorremos e pontes que atravessamos ou elos que construirmos que dão significado e sentido à vida, são densidades temporárias, que nos permitem avançar aparentemente às cegas… A luz a travessa todas as camadas e é sem permanecer, transporta-se, transforma-se e transmuta-se… A luz adensa-se e espalha-se até desaparecer.

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